Tenho noção de que o post de hoje pode ser incómodo. Para uns, os que ainda não são pais/mães, vai passar completamente ao lado. E não, não vai versar o sexo.
Vinha a conduzir, a ouvir música e a pensar que porcaria ando a fazer com a minha vida, quando noto qualquer coisa estranha no "carro" à minha frente. E as aspas surgem porque não era um ligeiro comum, era uma daqueles carros de família, tipo monovolume, creio que é assim que se chama aquele tipo de carro. A "qualquer coisa estranha" era algo de estranho, pensei eu, nos primeiros segundos, num carro. Era um ecrã, enorme, brilhante. Ao pararmos na rotunda, apercebi-me de que era um ecrã de televisão, e deu inclusivamente para constatar que passava um filme, o "Cars".
Num segundo impulso pensei que não devia ser assim tão invulgar, afinal, creio que há várias marcas a colocar este tipo de equipamento de série, especialmente em carros direccionados para a família.
O ecrã está colocado atrás, a malta põe um filme, e a criançada vai atrás, feliz e... calada. Eu debato-me cá em casa com problemas relacionados com os tiranos que não me querem deixar ver o telejornal. Sim, temos mais do que uma televisão, mas creio que a solução também não passa por estar cada um a ver a sua programação. Se tivesse uma televisão no carro, acho que os meus filhos já não saberiam falar por esta altura. Sim, estou a ser retrógrada, estou a ser bota-de-elástico. Eu não tenho cabo. E de cada vez que pondero aderir, penso no Panda, no BabyTV e nos demais canais que passam programação "infantil". Se com os quatro canais básicos já tenho muitas vezes de me aborrecer para sair de casa...
Não digo que não encontre utilidade neste tipo de equipamento num carro numa viagem Lisboa-Porto, ou Lisboa-Algarve. Agora, no dia-a-dia, para ir buscar e levar à escola... Que filhos estamos a criar? Que pais estamos a ser? Ainda perguntamos como correu a escola? Sabemos os nomes dos amigos dos nossos filhos? Será que é a nós que os nossos filhos vão recorrer quando tiverem dúvidas sobre o amor, o sexo, a paixão, o corpo?
Para os que ainda vão a tempo... Não esperemos que eles cheguem à adolescência para lhes dizer que estamos à disposição para as dúvidas. Demonstremos-lhes diariamente que fazemos parte do grupo de pessoas neste mundo que mais os querem ver felizes. E que isso passa por estarmos realmente presentes para eles. Não só de corpo. Acima de tudo, de alma.